quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Uma fé madura...


Talvez todos que participam frequentemente de alguma Celebração Litúrgica já ouviram ao menos uma vez que é preciso ter uma fé madura. Jesus afirma no Evangelho que quem tiver a fé como a de uma criança entrará no Reino dos Céus. Como a fé de uma criança pode ser essa fé madura que tantos arautos do Evangelho dizem que se deva possuir para alcançar a vida eterna?
Uma problemática atual se dá pela confusão que é gerada pela distinção errônea entre a fé "de criança", citada no Evangelho, que não é uma fé infantil, e a fé madura, que não é uma fé puramente racional. E o presente texto pretende demonstrar o que é a fé madura pela via negativa, ou seja, pelo o que não é para que na conclusão se possa definir o tema proposto de forma positiva.
Hoje muitos teólogos católicos que possuem uma vasta formação acadêmica têm utilizado uma chave de leitura para as Sagradas Escrituras e para o Sagrado Magistério um tanto quanto protestante. Bultmann, um teólogo protestante, propôs a "demistificação" da Bíblia, ou seja, retirar todos os mitos para que se encontre o Cristo histórico, e com isso diversos milagres de Jesus já deixaram de ser milagres e passaram a indicar a conversão das pessoas que o ouviam. Por exemplo, o milagre da multiplicação dos pães, já não é um milagre e sim a conversão de alguns que compraram e partilharam o pão com os outros, enfim, reduz Jesus a apenas um homem.
De fato, essa metodologia desenvolvida por Bultmann, consegue responder a mais questões, do ponto de vista racional, do que a metodologia que é ensinada pela Igreja. O homem está em busca de respostas para questões básicas, "quem sou eu", "de onde vim" e "para onde vou", e qualquer meio que, de forma plausível, facilite a obtenção dessas respostas é considerado válido por muitos.
Como essa metodologia invadiu várias escolas de teologia católicas essa mesma chave de leitura é aplicada não apenas às Sagradas Escrituras como também a todo o Sagrado Magistério da Igreja. O resultado é catastrófico, hoje muitos já não acreditam nos dogmas, que são verdades de fé irrevogáveis, proclamadas solenemente pela Igreja. Aquilo que deveria ser o ponto de equilíbrio e até mesmo o limite para especulações sobre a fé, o Magistério da Igreja, está sendo objeto da "demistificação", querem retirar o que elas chamam de mito de todo o ensinamento da Igreja.
E para eles o que é um mito? Tudo aquilo que a razão humana não consegue explicar. Coitado daqueles que se fixam na imanência e se esquecem da transcendência, em suas análises deformam e mutilam tanto a Deus, quanto ao ser humano, porque nenhum dos dois se limitam a apenas um dos dois aspectos citados.
Fato esse que tem gerado uma grande crise de fé no seio da Igreja, muitos já não acreditam na presença real de Cristo na Eucaristia, na Doutrina das Indulgências, na Imaculada Concepção e Assunção de Corpo e Alma da Virgem Maria. Fé madura é limitar Deus aos padrões e limites da razão humana? Fé madura é desprezar todo o ensinamento bimilenar da Igreja Católica, a qual Cristo prometeu que as portas do inferno não prevalecerão sobre ela?
Também podemos inferir que uma fé madura certamente não é infantil. A fé exige compromisso, conversão, metanóia. Uma pessoa não pode dizer que tem fé e ano após ano não se tornar uma pessoa melhor para a comunidade, para a família e para a Igreja.
Aqueles que possuem uma fé madura não podem se limitar a um sentimentalismo exacerbado e com isso terem apenas uma fé romântica, embaladas por lindas melodias e isenta de cravos, espinhos e cruzes.
As crianças acreditam em vários absurdos que escutam dos pais, "foi uma cegonha que te trouxe", "o papai Noel é quem te dá os presentes de Natal". Isso se deve simplesmente porque elas confiam em seus pais, mesmo que já tenham levado algumas palmadas, ficado de castigo, elas sempre acreditam em seus pais.
Na doutrina católica, o próprio Papa Bento XVI, reconhece, que existem algumas verdades que aparentemente são contraditórias, mas o próprio Papa nos ensina que pela ação do Espírito de Deus conseguimos perceber que na verdade não são contradições, mas apenas aspectos que superam a nossa razão e a nossa lógica, mas estão segundo a perfeita razão e lógica de Deus, que é infinitamente superior a do homem.
Acreditar nessas Verdades de fé e crescer a cada dia na Graça do Senhor através de um processo contínuo de conversão, sempre pedindo para que a cada dia Deus aumente a fé, é sem sombras de dúvidas, uma fé madura.
"A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê. Foi ela que fez a glória dos nossos, antepassados. Pela fé reconhecemos que o mundo foi formado pela palavra de Deus e que as coisas visíveis se originaram do invisível." (Hebreus 11,1-3)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Desabafo


É assustador o tamanho da mediocridade de muitos católicos. É impressionante a incapacidade de analisarem o quadro social e político atual no Brasil como cristãos autênticos.
Primeiramente é importante que se tenha em vista quais são os valores imprescindíveis para se ser cristão. A regra é o que ensina o Sagrado Magistério da Igreja, sobretudo a partir da Sagrada Tradição e da Sagrada Escritura. E qual ensinamento é esse? Tudo passa pelo amor e o temor a Deus.
Amando e temendo a Deus acabar-se-á por cumprir uma das regras de ouro do Santo Evangelho, "tudo aquilo que quiser que os outros te façam, faça você mesmo a eles". Mas não se trata de simplesmente fazer a vontade do outro. É preciso ter em vista que o que eu verdadeiramente desejo, mesmo que inconscientemente, é que os outros me façam o melhor para o meu crescimento e não saciem a minha vontade e meus anseios, que pode ser muitas vezes egoísta e hedonista. Com isso o que se deve fazer ao próximo é o que é necessário para a sua edificação e santificação.
Infelizmente fazer o que é necessário está fora de moda em nome de praticar o que é "politicamente correto", em nome de um pseudo amor e respeito humano permite-se que as pessoas se enveredem por um caminho de morte, afinal de contas cada um tem o direito de fazer o que deseja para a sua vida.
O livre-arbítrio garante esse direito, mas aqueles que tem consciência dos erros e desvios do seu próximo, de sua comunidade, não têm o direito de se calarem, sobretudo se forem católicos, afinal de contas aonde está a missão e a evangelização, trancados e amordaçados em um "farisaísmo", em um "túmulo caiado"?
O que muitos não entendem é que não há distinção entre o estar na Igreja e o estar no mundo, com as devidas peculiaridades, em todos os ambientes é preciso dar testemunho da presença de Cristo, e por sinal, muitas vezes essa presença vai mais incomodar, mas irá fazer o que é necessário.
Com isso um cristão não pode simplesmente votar em um candidato por ele ter os melhores resultados na área econômica. Padre Dehon ensina que "o verdadeiro progresso é a dignidade humana", com isso aqueles que insistem em extirparem da sociedade brasileira toda a moral católica não estão servindo ao povo brasileiro, mas sim a ideologias e partidarismos que já mataram milhões de pessoas em todo o mundo.
Os católicos, em um bom número, já se esqueceram da transcendência e se fixam apenas na imanência. Indicadores econômicos, geração de empregos, criação de vagas universitárias, tudo isso passou a ser superior a Jesus Cristo. Muitos se esqueceram do que Jesus disse a Pilatos, "o meu Reino não é desse mundo", realmente o Reino de Deus não é desse mundo que prega a cultura da morte, a união civil e a adoção de crianças pelos homossexuais, a proibição dos símbolos religiosos em lugares públicos, isso é tudo, menos o Reino de Deus.
Muitos já se esqueceram de como os primeiros cristãos deram testemunho do Reino de Deus, não foi dobrando os seus joelhos diante dos romanos, da sua cultura e religião, mas derramando o seu sangue, apesar de todo o progresso que os romanos levaram através de sua engenharia para as cidades por eles dominadas os mártires "agarram os bens que não passam".
O que dizer? O ensinamento de Parmênides é mais atual do que nunca, "o homem é a medida de todas as coisas", o que se pode esperar de quem pensa assim? Resta-nos a promessa de nosso Senhor de que as portas do inferno não prevalecerão, e basta isso, porque a vitória que os nossos olhos não vêem, o nosso coração sente, "em Cristo somos mais do que vencedores" e quem perseverar até o fim verá.