sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Sobre a normalidade...

Segundo o dicionário Michaelis o que é normal é o que está conforme a norma, o que é regular. Quando se diz que para um ser humano um determinado tipo de comportamento é normal está sendo constatado que tal postura está conforme uma norma, mas qual é essa norma, essa diretriz que legitima o comportamento humano?

É bem nítido que para muitos a regra que rege a normalidade é saciedade de seus instintos, que muitas vezes são os impulsos mais vis que rebaixam o ser humano a condições animalescas, marcada por comportamentos insanos e irracionais. Se a lei que corrobora o agir humano é o instinto qual é o lugar ocupado pela razão humana nesse processo?

Questões como as que foram levantadas nos dois primeiros parágrafos surgem de uma observação da sociedade atual. Em todas as pessoas os instintos estão presentes, mas nas pessoas psicologicamente sadias os impulsos estão submetidos à razão. E com isso o agir humano está conforme a natureza humana.

Mas o que se tem percebido atualmente é que o instinto de uma minoria está se tornando cada vez mais a regra que valida o comportamento humano. E existem leis e projetos de lei que normalizam tais posições que são totalmente contrárias a natureza humana, como se a lei pudesse ditar para o homem o que ele deveria ser.

Por exemplo, recentemente o Conselho Federal de Medicina autorizou a reprodução assistida para casais homossexuais, é bem claro que vai contra a natureza humana. O SUS vai custear as cirurgias de mudança de sexo com o dinheiro oriundo de impostos pago por pessoas que não concordam com tal procedimento.

Existe uma espécie de ofensiva estatal que tenta mudar tudo o que se entende sobre a família, educação dos filhos, direitos e deveres dos cidadãos. Mas tais pessoas que enveredam por esse caminho, por mais leis que possam criar, nunca, jamais, em circunstância alguma eles poderão criar a verdade.

A verdade não é objeto de escrutínio, de um consenso ou de qualquer outra forma de diálogo ou até mesmo de imposição. A verdade é o que ela realmente é. Qual é a verdade sobre o homem? Qual é a verdade sobre a família? Está em sua natureza e em seu fim e não nas leis que desviam o homem da verdade e, que, até mesmo tenta submeter à razão ao instinto.

É preciso que a maioria aparentemente "cega, surda e muda" se manifeste. Quanto mais se permitir que a mentira sobre o homem seja a regra, mais o homem vai se afastar de si mesmo. É preciso dar um basta.

"O espírito revolucionário é muito conveniente. Ele nos libera de todos os escrúpulos no que se refere a idéias" Joseph Conrad

"Em questões de Estado, cuide das formalidades e pode esquecer as moralidades." Mark Twain

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Uma fé madura...


Talvez todos que participam frequentemente de alguma Celebração Litúrgica já ouviram ao menos uma vez que é preciso ter uma fé madura. Jesus afirma no Evangelho que quem tiver a fé como a de uma criança entrará no Reino dos Céus. Como a fé de uma criança pode ser essa fé madura que tantos arautos do Evangelho dizem que se deva possuir para alcançar a vida eterna?
Uma problemática atual se dá pela confusão que é gerada pela distinção errônea entre a fé "de criança", citada no Evangelho, que não é uma fé infantil, e a fé madura, que não é uma fé puramente racional. E o presente texto pretende demonstrar o que é a fé madura pela via negativa, ou seja, pelo o que não é para que na conclusão se possa definir o tema proposto de forma positiva.
Hoje muitos teólogos católicos que possuem uma vasta formação acadêmica têm utilizado uma chave de leitura para as Sagradas Escrituras e para o Sagrado Magistério um tanto quanto protestante. Bultmann, um teólogo protestante, propôs a "demistificação" da Bíblia, ou seja, retirar todos os mitos para que se encontre o Cristo histórico, e com isso diversos milagres de Jesus já deixaram de ser milagres e passaram a indicar a conversão das pessoas que o ouviam. Por exemplo, o milagre da multiplicação dos pães, já não é um milagre e sim a conversão de alguns que compraram e partilharam o pão com os outros, enfim, reduz Jesus a apenas um homem.
De fato, essa metodologia desenvolvida por Bultmann, consegue responder a mais questões, do ponto de vista racional, do que a metodologia que é ensinada pela Igreja. O homem está em busca de respostas para questões básicas, "quem sou eu", "de onde vim" e "para onde vou", e qualquer meio que, de forma plausível, facilite a obtenção dessas respostas é considerado válido por muitos.
Como essa metodologia invadiu várias escolas de teologia católicas essa mesma chave de leitura é aplicada não apenas às Sagradas Escrituras como também a todo o Sagrado Magistério da Igreja. O resultado é catastrófico, hoje muitos já não acreditam nos dogmas, que são verdades de fé irrevogáveis, proclamadas solenemente pela Igreja. Aquilo que deveria ser o ponto de equilíbrio e até mesmo o limite para especulações sobre a fé, o Magistério da Igreja, está sendo objeto da "demistificação", querem retirar o que elas chamam de mito de todo o ensinamento da Igreja.
E para eles o que é um mito? Tudo aquilo que a razão humana não consegue explicar. Coitado daqueles que se fixam na imanência e se esquecem da transcendência, em suas análises deformam e mutilam tanto a Deus, quanto ao ser humano, porque nenhum dos dois se limitam a apenas um dos dois aspectos citados.
Fato esse que tem gerado uma grande crise de fé no seio da Igreja, muitos já não acreditam na presença real de Cristo na Eucaristia, na Doutrina das Indulgências, na Imaculada Concepção e Assunção de Corpo e Alma da Virgem Maria. Fé madura é limitar Deus aos padrões e limites da razão humana? Fé madura é desprezar todo o ensinamento bimilenar da Igreja Católica, a qual Cristo prometeu que as portas do inferno não prevalecerão sobre ela?
Também podemos inferir que uma fé madura certamente não é infantil. A fé exige compromisso, conversão, metanóia. Uma pessoa não pode dizer que tem fé e ano após ano não se tornar uma pessoa melhor para a comunidade, para a família e para a Igreja.
Aqueles que possuem uma fé madura não podem se limitar a um sentimentalismo exacerbado e com isso terem apenas uma fé romântica, embaladas por lindas melodias e isenta de cravos, espinhos e cruzes.
As crianças acreditam em vários absurdos que escutam dos pais, "foi uma cegonha que te trouxe", "o papai Noel é quem te dá os presentes de Natal". Isso se deve simplesmente porque elas confiam em seus pais, mesmo que já tenham levado algumas palmadas, ficado de castigo, elas sempre acreditam em seus pais.
Na doutrina católica, o próprio Papa Bento XVI, reconhece, que existem algumas verdades que aparentemente são contraditórias, mas o próprio Papa nos ensina que pela ação do Espírito de Deus conseguimos perceber que na verdade não são contradições, mas apenas aspectos que superam a nossa razão e a nossa lógica, mas estão segundo a perfeita razão e lógica de Deus, que é infinitamente superior a do homem.
Acreditar nessas Verdades de fé e crescer a cada dia na Graça do Senhor através de um processo contínuo de conversão, sempre pedindo para que a cada dia Deus aumente a fé, é sem sombras de dúvidas, uma fé madura.
"A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê. Foi ela que fez a glória dos nossos, antepassados. Pela fé reconhecemos que o mundo foi formado pela palavra de Deus e que as coisas visíveis se originaram do invisível." (Hebreus 11,1-3)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Desabafo


É assustador o tamanho da mediocridade de muitos católicos. É impressionante a incapacidade de analisarem o quadro social e político atual no Brasil como cristãos autênticos.
Primeiramente é importante que se tenha em vista quais são os valores imprescindíveis para se ser cristão. A regra é o que ensina o Sagrado Magistério da Igreja, sobretudo a partir da Sagrada Tradição e da Sagrada Escritura. E qual ensinamento é esse? Tudo passa pelo amor e o temor a Deus.
Amando e temendo a Deus acabar-se-á por cumprir uma das regras de ouro do Santo Evangelho, "tudo aquilo que quiser que os outros te façam, faça você mesmo a eles". Mas não se trata de simplesmente fazer a vontade do outro. É preciso ter em vista que o que eu verdadeiramente desejo, mesmo que inconscientemente, é que os outros me façam o melhor para o meu crescimento e não saciem a minha vontade e meus anseios, que pode ser muitas vezes egoísta e hedonista. Com isso o que se deve fazer ao próximo é o que é necessário para a sua edificação e santificação.
Infelizmente fazer o que é necessário está fora de moda em nome de praticar o que é "politicamente correto", em nome de um pseudo amor e respeito humano permite-se que as pessoas se enveredem por um caminho de morte, afinal de contas cada um tem o direito de fazer o que deseja para a sua vida.
O livre-arbítrio garante esse direito, mas aqueles que tem consciência dos erros e desvios do seu próximo, de sua comunidade, não têm o direito de se calarem, sobretudo se forem católicos, afinal de contas aonde está a missão e a evangelização, trancados e amordaçados em um "farisaísmo", em um "túmulo caiado"?
O que muitos não entendem é que não há distinção entre o estar na Igreja e o estar no mundo, com as devidas peculiaridades, em todos os ambientes é preciso dar testemunho da presença de Cristo, e por sinal, muitas vezes essa presença vai mais incomodar, mas irá fazer o que é necessário.
Com isso um cristão não pode simplesmente votar em um candidato por ele ter os melhores resultados na área econômica. Padre Dehon ensina que "o verdadeiro progresso é a dignidade humana", com isso aqueles que insistem em extirparem da sociedade brasileira toda a moral católica não estão servindo ao povo brasileiro, mas sim a ideologias e partidarismos que já mataram milhões de pessoas em todo o mundo.
Os católicos, em um bom número, já se esqueceram da transcendência e se fixam apenas na imanência. Indicadores econômicos, geração de empregos, criação de vagas universitárias, tudo isso passou a ser superior a Jesus Cristo. Muitos se esqueceram do que Jesus disse a Pilatos, "o meu Reino não é desse mundo", realmente o Reino de Deus não é desse mundo que prega a cultura da morte, a união civil e a adoção de crianças pelos homossexuais, a proibição dos símbolos religiosos em lugares públicos, isso é tudo, menos o Reino de Deus.
Muitos já se esqueceram de como os primeiros cristãos deram testemunho do Reino de Deus, não foi dobrando os seus joelhos diante dos romanos, da sua cultura e religião, mas derramando o seu sangue, apesar de todo o progresso que os romanos levaram através de sua engenharia para as cidades por eles dominadas os mártires "agarram os bens que não passam".
O que dizer? O ensinamento de Parmênides é mais atual do que nunca, "o homem é a medida de todas as coisas", o que se pode esperar de quem pensa assim? Resta-nos a promessa de nosso Senhor de que as portas do inferno não prevalecerão, e basta isso, porque a vitória que os nossos olhos não vêem, o nosso coração sente, "em Cristo somos mais do que vencedores" e quem perseverar até o fim verá.

domingo, 31 de outubro de 2010

A Igreja e a descoberta do homem


O homem precisa encontrar consigo mesmo para poder ser o protagonista e não apenas um mero figurante em sua própria existência. Como a Igreja contribui para que haja esse encontro?



Jung já ensinava que para aquele que participa, verdadeiramente, da Igreja Católica, não é preciso procurar um especialista para conduzi-lo ao encontro com o Si – mesmo, porque própria Igreja irá cuidar para que esse encontro aconteça. Mas o que a Igreja pode oferecer a cada pessoa de modo que ela se torne psicologicamente integrada?


Em uma sociedade em que se está ficando fora de moda acreditar no que supera e transcende a razão humana, a resposta a essa questão proposta no final do parágrafo anterior, pode decepcionar a muitos. Sendo o encontro com o Si – mesmo um encontro com Deus, como nos ensina São Paulo “a nossa vida está escondida com Cristo em Deus”, o que a Igreja tem a oferecer para propiciar esse encontro são todos os sinais visíveis que ela recebeu do próprio Cristo Jesus, os Sacramentos.


Por exemplo, um problema muito atual é que as pessoas já não conseguem romper com muitos comportamentos infantis, a mudança da infância para a adolescência e, desta para a idade adulta em muitas ocasiões não se dá de maneira sadia. Com isso se tem crianças querendo se vestir e se comportar como adultos, adultos que em diversas situações, e não raramente, possuem um comportamento super infantil. A falta dos ritos de passagem contribuem significadamente para esse quadro.


Os Sacramentos do Batismo e do Crisma além de todo o valor espiritual, possui ou deveria possuir reflexos na vida do cristão. Aqueles que compreendem toda a dinâmica e a realidade desses Sacramentos possuem uma metanóia. Porque após esses ritos esperasse um comportamento diferente, uma verdadeira conversão.


Outro problema comum é o apego a pessoas e objetos. Muitos não conseguem viver sem a aprovação da mãe, por exemplo. Outros se apegam aos bens materiais ou prazeres sexuais, ou alguma outra forma do hedonismo. Os Sacramentos do Matrimônio e da Ordem ensinam como as pessoas devem se portar diante das pessoas e dos bens temporais, embora não seja apenas esses os efeitos desses Sacramentos, eles contribuem significadamente para que as pessoas vivam a castidade, a pobreza e a obediência, no sentido mais autêntico e positivo dessas virtudes.


O Sacramento da Unção dos Enfermos é um Sacramento da Cura, sobretudo espiritual e ele se constitui um sinal de contradição para aqueles, que hoje são muitos, que colocam a sua confiança e se dedicam apenas em adquirir bens materiais e prazeres e que não suportam a idéia da morte. Através desse Sacramento os cristãos são lembrados e incentivados a viverem bem o presente, pois não adianta se preocupar com o futuro, como nos ensina o Bom Mestre, “a cada dia basta a sua preocupação.”


Pelo Sacramento da Confissão cada pessoa tem a oportunidade de reconhecer que realmente ninguém é perfeito, pelo efeito do Pecado Original, o homem deseja fazer o bem, mas acaba fazendo o mal que não quer como exortava São Paulo, a partir de sua própria experiência. Em um mundo no qual se exige que o homem não erre, se reconhecer como um “errador”, não é nada fácil. Mas somente aquele que se conscientiza que não é capaz de realizar tudo sozinho e que precisa de uma ajuda do Alto se torna capaz de melhorar cada vez mais, se tornar mais humano.


E ainda há o grande Sacramento, Aquele, que como o Catecismo da Igreja Católicatem todos os outros Sacramentos submetidos a Ele, pois esse Sacramento é o próprio Deus, Jesus Eucarístico. Aqueles que realmente estão preparados para receber a Divina Eucaristia fazem dela um encontro com Deus e consigo mesmo. A Eucaristia é o ápice da vida cristã pois é com Ela, nEla e por Ela que o cristão obtêm a força necessária para se conformar a imagem de Cristo, no qual está encerrada a plenitude do homem. Tudo que pode se esperar de bom de uma pessoa está em Cristo, e quanto mais uma pessoa tomar a formar, ser a imagem e semelhança de Jesus, mais a pessoa se tornar um bom cidadão, bons pais e bons padres.


As pessoas não fazem idéia do tesouro que está encerrado na Igreja, esse tesouro é a vida plena de cada um, porque a Igreja é Cristo e é em Cristo que cada um se encontra. O homem precisa ter a coragem de acreditar que a melhor coisa que ele pode fazer por ele mesmo consiste em se abandonar nesse mistério que a sua razão não entende, mas a sua alma e seu coração sentem.


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A verdadeira e urgente descoberta


A cada dia se percebe como as pessoas têm acreditado em um Deus puramente racional ou já não acreditam nEle. Pode-se atribuir esse fato apenas a uma evolução cultural e científica da sociedade ou esses fatos indicam problemas mais pontuais e profundos?

“A sociedade é o espelho exteriorizado da psique individual”¹ , portanto a descrença e o reducionismo de Deus para dimensões suportáveis pelo ego indicam a fragilidade e a falta de individuação dos homens da sociedade atual.²

“O paradigma clássico da individuação é a conversão de Paulo no caminho de Damasco. Ele teve um encontro com o Si - mesmo, simbolizado pela imagem de Cristo, e esse encontro transformou a sua vida. A partir daquele momento, ele não era mais um homem 'egocentrado', mas um homem centrado no Si - mesmo. E, depois disso, em suas cartas ele descreve a si mesmo como ‘escravo de Cristo’. Esse é o efeito de um encontro decisivo com o Si - mesmo.”³

O Si - mesmo é uma Personalidade Maior, é Deus, que reside no íntimo de cada homem, e o caminho para esse encontro se dá pela individuação, pelo autoconhecimento. O homem que realmente se conhece, conhece a Deus, e por isso sabe que existe Algo em seu interior a qual ele é submisso. O homem que busca ter uma vida plena busca incessantemente se conhecer e percebe que a sua vida está escondida em Deus. 4

O encontro com o Si - mesmo permite que o homem conheça as suas misérias, as suas limitações, e também, as suas qualidades. Porém quando acontece esse encontro o ego se relativiza, e o homem reconhece que a sua vida é governada por um Ser superior a ele, Deus. 5

Como se percebe na sociedade atual existe uma progressiva e rápida diminuição da fé em Deus, do temor a Deus a um ateísmo, senão teórico, mas pelo menos prático. Muitos vivem como se Deus já não existisse.

Situação essa que já é muito grave, mas como se pode deduzir pelo o que foi escrito acima essa situação, talvez com exceção dos filósofos ateus, se deve ao desconhecimento do homem a respeito de si mesmo. O homem já não se conhece, não conhece suas limitações, suas capacidades e é dominado pelo individualismo.

É comum pessoas sem identidade nesse quadro, porque a identidade se desenvolve durante o processo de individuação.6 Quem não se conhece não é capaz de dizer, ou melhor, viver quem realmente ela é, e por isso é levada pelas ondas da moda e corre atrás de qualquer novidade. 7
“Os membros da sociedade atual precisam ter uma percepção autêntica de sua própria identidade; eles precisam adquirir uma estrutura de caráter que lhes possibilite funcionar de maneira responsável em relação às outras pessoas.”  8

Pessoas vazias, egoístas, vidas sem sentido, cada vez mais pessoas com depressão e cometendo suicídio; é preciso mais algum sinal de que existe algo muito errado na atualidade?

Enquanto o homem não se descobrir e portanto ter um encontro com Deus continuará caminhando para uma catástrofe, sem saber para onde vai, e sem saber quem ele realmente é.



 
1 EDINGER, Edward. Ciência da Alma; São Paulo: Paulus, 2004, p.39
2 Para que se compreenda melhor a individuação recomendo a leitura do post "Sintomas", anterior a esse post no blog Junto ao Coração do meu Jesus.
3 EDINGER, Edward. Ciência da Alma; São Paulo: Paulus, 2004, p.32s
4 Cf. Colossenses. Português. In: Bíblia sagrada. Ave Maria. 3,3. N. T.
5 Ibidem, p.39
6 Cf. Ibidem, p.122
7 Cf. RATZINGER, Joseph. Homilia na Santa Missa "Pro Eligendo Romano Pontifice", 18/05/2005
8 EDINGER, Edward. Ciência da Alma; São Paulo: Paulus, 2004, p.36

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Sintomas...

Existem muitas coisas que realmente não são claras no mundo atual, e que, sem anacronismo algum, outrora pareciam ser, se não mais claras, eram pelo menos mais bem aceitas. E uma dessas coisas é o que se convenciona como “norma de conduta” para as ações, pensamentos, comentários ou mesmo as omissões do indivíduo na sociedade atual.

Há diversos fatores que contribuem para que o homem esteja nesse problema atual, de modo especial a individualização e o problema ético.

A individuação é o processo, segundo Jung, que a pessoa toma consciência de si mesma.¹ Todo o indivíduo que tem uma psique sadia passou por esse processo.² De forma simplória pode-se entender a individuação como sendo o que o homem conhece a respeito de si mesmo, o autoconhecimento. Pessoas que não se conhecem se tornam individualistas e buscam saciar as suas vontades com ou sem questionamento.

Pessoas que não passaram pela individuação são imaturas, algumas se tornam “eternas crianças” e de certa forma essa condição contribui para que se abra o espaço para que se crie o problema ético. O que é nomeado como a “ética de Maquiavel” não é simplesmente um conceito que o autor criou, mas foi inferido, percebido, pelo mesmo, a partir do que ele observou ao seu redor.

O homem que não conhece a si mesmo pode estar fazendo uma opção inconsciente pela “ética de Maquiavel”. Os fins passam a justificar os meios. Como as pessoas desconhecem o efeito que determinada atitude possa ter em sua vida, elas também desconhecem os efeitos na vida do outro.

Uma grande contribuição da ética maquiavélica para a condição atual é a colocação de cada pessoa no centro de sua própria vida, o egocentrismo. Com cada pessoa girando em torno de seu próprio “umbigo”, muitas estão em ordem colidente, e a pessoa mais “forte” passa por cima da outra, já que o importante é que cada pessoa continue na órbita que ela havia traçado para si mesma.

O individualismo tem consequências que vão muito além da realidade individual do ser. A partir do momento que para um número considerável de indivíduos a “norma” passa a ser o que cada um pensa a respeito de determinada situação não existe um padrão ético, e com isso não há justiça.

Com o individualismo também passa a existir o relativismo, e no relativismo a “regra do jogo” é a ética maquiavélica, o fim desejado é o prazer e uma “pseudo alegria” e assim qualquer meio justifica esse fim.

O individualismo e o relativismo alimentam o ego do homem, e o homem orgulhoso valoriza apenas a sua opinião, os seus conceitos. Para ele sempre são necessárias a criação de novas estruturas e novos conceitos com os quais ele sacie o seu mundo interior.

Em nome de uma necessidade individual o homem relativista é capaz de desprezar tudo aquilo que já existiu, para que apenas o que ele “acha” sobre determinado tema seja a regra. Leis e tradições de instituições que durante centenas de anos suportaram a vários conflitos e heresias se vêem ameaçadas hoje, porque cada indivíduo deseja colocar o seu ponto de vista como regra e assim a unidade já não existe. E o agravante que a vontade, o ponto de vista do indivíduo varia em uma frequência bem superior as das marés, “o que é certo hoje, não será mais certo amanhã, mas quem sabe semana que vem será correto novamente.”

Enquanto cada pessoa se preocupar em satisfazer apenas a sua vontade e acreditar apenas em suas opiniões dificilmente o ser humano passará a ser valorizado com o devido valor.

Deus nos ensina através da criação que no caos não pode haver vida. Assim como os planetas do sistema solar estão ordenados em torno do Sol em órbitas concêntricas, é preciso que os homens estejam em torno de um ideal maior, para que as suas vidas estejam ordenadas.³

O homem só consegue perceber esse ideal maior quando se conhece, e se conhecendo é capaz de identificar qual é o seu lugar no mundo. Egoísmo, relativismo, hedonismo são apenas sintomas de um mal ainda maior, o homem não sabe mais quem ele é.

 1 EDINGER, Edward. Ciência da Alma; São Paulo: Paulus, 2004, p. 31
2 Ibidem, p.24
3 Cf. MARIAS, Julián. História da Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p.04

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Ser feliz...


Talvez não exista ninguém que tenha dito que “nasceu para ser feliz”; mas existe alguém que pode ser plenamente feliz?

Já filósofos por volta do ano 650 a.C. perceberam que as forças existentes na natureza, e, sobretudo, no interior do homem existem de tal forma que sempre há uma que se opõe à outra, alegria e tristeza, prazer e dor, amor e ódio, vida e morte.

Nesse jogo de forças opostas o homem pode ser jogado de um lado para o outro. Sempre um lado contribuirá para satisfazer, “preencher”, e o outro para “esvaziar” o homem. Se considerar o primeiro como sendo o lado claro, iluminado e o segundo como o lado escuro, trevas, poder-se-á perceber como o ditado popular que diz “só se valoriza aquilo que perdeu” tem sentido.

Quando o homem está satisfeito, está “na luz”, ele pode não perceber que caminha para as trevas, para a insatisfação, porque o homem que está saciado, muitas vezes pode se tornar acomodado. Quando se está na luz talvez não seja fácil perceber onde a treva se encontra, mas nesse caso a recíproca não é verdadeira. Quando se está nas trevas, insatisfeito, o menor feixe de luz pode ser suficiente para quebrar a escuridão e orientar o homem rumo à luz.

É como um navio que ao longe avista a luz de um farol, a luz não é suficiente para dissipar toda a escuridão da noite, mas já é suficiente para indicar por qual caminho seguir. Schopenhauer afirma que não se pode perceber a existência de algo bom, sem que exista algo ruim, diretamente oposto a esse algo bom. Seria como afirmar que o homem não consegue caminhar em uma claridade completa porque essa ofusca os olhos, mas também não pode caminhar nas trevas porque não conseguirá ver o caminho. É preciso que haja pelo menos uma penumbra para que o homem possa enxergar a luz que emana do amor, da alegria e poder caminhar nessa direção.

Aceitar que a vida humana possa ser preenchida com apenas situações prazerosas, iluminadas, é alienante e utópico, mas também aceitar que a vida é apenas um martírio, uma escuridão completa é se entregar aos braços da morte. É preciso compreender que a dinâmica da vida é justamente essa, mortes que geram vidas, tristezas que tornam alegrias, sofrimentos que fazem o homem mais maduro.

Estar consciente da dualidade da vida humana permite que se percebam as trevas no interior humano, mas são elas, as trevas, que motivam e permitem que o homem caminhe rumo a luz e a fonte que poderá saciá-lo. Aqueles que se contentam com uma pequena faísca, encaram a vida com grande superficialidade, e por não saberem por onde andar, encontram-se parados pelo caminho imaginando terem alcançado tudo o que já podiam ter conseguido. É a eterna fuga das trevas que faz com que o homem caminhe rumo à luz.

Ser plenamente feliz se torna prescindível quando se está buscando viver, sempre navegando rumo às luzes que nos conduzem ao porto seguro. Navegar não é simplesmente encarar águas mansas, mas também mares bravios, e nesse contexto ser plenamente feliz é impossível para o homem enquanto homem, porque o impulso que se dá rumo a felicidade é oriundo das tormentas, e a felicidade plena, ao menos nesse mundo, não é um lugar aonde se pode chegar e ancorar, mas sim o movimento, o se por a caminhar rumo a ela.
Ser feliz é viver.