segunda-feira, 31 de maio de 2010

Deus caiu do céu...

Deus caiu do céu para dentro da psique humana¹. Esse conceito é verdadeiro? Até que ponto essa realidade é benéfica?

Primeiramente é importante que se entenda o que se propõe de como se deva entender a queda de deus. Durante milhares de anos deus era uma realidade transcendente com a qual o ser humano precisava lidar. Era tido como algo inexplicável, não havia grandes pretensões de se compreender as entidades divinas. Deus é deus, é o que é e pronto.


Porém a partir do século XV deus começou a se personalizar e adentrar a psique humana. O ser humano começou a descobrir uma realidade que realmente é verdadeira, existe dentro dele uma entidade transcendente, que não consigue explicar. Após o encontro com essa entidade se estabelece uma relação de submissão do ego a essa entidade que Jung denomina o Si-mesmo, e no Cristianismo seria a sétima morada, ou seja, o lugar de encontro com Deus, a realidade transcendente.


Porque essa realidade não pode ser totalmente compreendida? Só se compreende aquilo que se pode incorporar. É como se a mente fosse uma caixa e os objetos compreensíveis são aqueles que cabem totalmente nessa caixa. Aquilo que é maior do que a caixa só pode-se compreender a parte que cabe na mesma.


Essa valorização do ser humano, sobretudo abrindo os olhos para perceber que o Sagrado habita nele é extremamente positiva, porém com o passar dos anos chegou-se a um processo, que se aproxima do seu ápice. Esse pode ser considerado como a total personalização do transcendente para que o mesmo possa ser compreendido. Eis o grande problema, ainda usando a metáfora da caixa, o transcendente, Deus, o Si - mesmo não cabe na caixa da compreensão, mas nesse processo atual a imagem está sendo deformada e reduzida para que possa ser incorporada pelo nosso ego e com isso compreendido.


Com essa deformação gerou-se um grande problema, muito atual, a perda de sentido para a vida. Porque enquanto não se encontrar com a realidade transcendente, enquanto não se tiver um encontro pessoal com Cristo e com isso encontrar a vida que está escondida com Cristo em Deus, não se encontrará com o Si - mesmo, e sendo assim o indivíduo não será homem verdadeiro e autêntico, protagonista de sua existência.


A problemática se dá pelo fato de reduzir o incompreensível aos conceitos já conhecidos e esquecendo que existem objetos que não podem ser compreendidos, que por serem transcendentes, não cabem na caixa de nosso entendimento.

Com isso a crise de sentido surge do fato de que a partir do momento que deformamos a nossa imagem de deus, não nos encontramos com o Si - mesmo. E a importância desse encontro se deve ao fato de que ele se torna uma fonte que fecunda e dá sentido a nossa existência. Diante do mistério os nossos conceitos não têm mais aplicação, posso apenas observar alguns aspectos dessa realidade, mas não posso compreendê-la já que essa realidade é maior do que o meu ego, maior que a minha capacidade de entendimento.


A vida humana transcende a tudo que já conhecemos, não há filósofo que possa responder a todas as questões sobre a vida, e quando se arrisca ir por esse campo deforma e diminui a grandeza da vida humana. Somos transcendentes, o Sagrado habita em nós. O homem é um grande mistério. O homem é incapaz de compreender por si mesmo o sentido de sua existência. O que fazer diante dessa realidade? É preciso aceitar os fatos e mergulhar nesse mistério, não buscando explicações, entendimento , mas apenas vivendo e nunca se esquecer de tirar as sandálias dos nossos conceitos porque o lugar que se irá pisar é Sagrado.




¹ Edward Edinger, Ciência da Ama, p. 13

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