segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Sintomas...

Existem muitas coisas que realmente não são claras no mundo atual, e que, sem anacronismo algum, outrora pareciam ser, se não mais claras, eram pelo menos mais bem aceitas. E uma dessas coisas é o que se convenciona como “norma de conduta” para as ações, pensamentos, comentários ou mesmo as omissões do indivíduo na sociedade atual.

Há diversos fatores que contribuem para que o homem esteja nesse problema atual, de modo especial a individualização e o problema ético.

A individuação é o processo, segundo Jung, que a pessoa toma consciência de si mesma.¹ Todo o indivíduo que tem uma psique sadia passou por esse processo.² De forma simplória pode-se entender a individuação como sendo o que o homem conhece a respeito de si mesmo, o autoconhecimento. Pessoas que não se conhecem se tornam individualistas e buscam saciar as suas vontades com ou sem questionamento.

Pessoas que não passaram pela individuação são imaturas, algumas se tornam “eternas crianças” e de certa forma essa condição contribui para que se abra o espaço para que se crie o problema ético. O que é nomeado como a “ética de Maquiavel” não é simplesmente um conceito que o autor criou, mas foi inferido, percebido, pelo mesmo, a partir do que ele observou ao seu redor.

O homem que não conhece a si mesmo pode estar fazendo uma opção inconsciente pela “ética de Maquiavel”. Os fins passam a justificar os meios. Como as pessoas desconhecem o efeito que determinada atitude possa ter em sua vida, elas também desconhecem os efeitos na vida do outro.

Uma grande contribuição da ética maquiavélica para a condição atual é a colocação de cada pessoa no centro de sua própria vida, o egocentrismo. Com cada pessoa girando em torno de seu próprio “umbigo”, muitas estão em ordem colidente, e a pessoa mais “forte” passa por cima da outra, já que o importante é que cada pessoa continue na órbita que ela havia traçado para si mesma.

O individualismo tem consequências que vão muito além da realidade individual do ser. A partir do momento que para um número considerável de indivíduos a “norma” passa a ser o que cada um pensa a respeito de determinada situação não existe um padrão ético, e com isso não há justiça.

Com o individualismo também passa a existir o relativismo, e no relativismo a “regra do jogo” é a ética maquiavélica, o fim desejado é o prazer e uma “pseudo alegria” e assim qualquer meio justifica esse fim.

O individualismo e o relativismo alimentam o ego do homem, e o homem orgulhoso valoriza apenas a sua opinião, os seus conceitos. Para ele sempre são necessárias a criação de novas estruturas e novos conceitos com os quais ele sacie o seu mundo interior.

Em nome de uma necessidade individual o homem relativista é capaz de desprezar tudo aquilo que já existiu, para que apenas o que ele “acha” sobre determinado tema seja a regra. Leis e tradições de instituições que durante centenas de anos suportaram a vários conflitos e heresias se vêem ameaçadas hoje, porque cada indivíduo deseja colocar o seu ponto de vista como regra e assim a unidade já não existe. E o agravante que a vontade, o ponto de vista do indivíduo varia em uma frequência bem superior as das marés, “o que é certo hoje, não será mais certo amanhã, mas quem sabe semana que vem será correto novamente.”

Enquanto cada pessoa se preocupar em satisfazer apenas a sua vontade e acreditar apenas em suas opiniões dificilmente o ser humano passará a ser valorizado com o devido valor.

Deus nos ensina através da criação que no caos não pode haver vida. Assim como os planetas do sistema solar estão ordenados em torno do Sol em órbitas concêntricas, é preciso que os homens estejam em torno de um ideal maior, para que as suas vidas estejam ordenadas.³

O homem só consegue perceber esse ideal maior quando se conhece, e se conhecendo é capaz de identificar qual é o seu lugar no mundo. Egoísmo, relativismo, hedonismo são apenas sintomas de um mal ainda maior, o homem não sabe mais quem ele é.

 1 EDINGER, Edward. Ciência da Alma; São Paulo: Paulus, 2004, p. 31
2 Ibidem, p.24
3 Cf. MARIAS, Julián. História da Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p.04

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